O antigo estádio do Lima situava-se junto da atual praça do Marquês de Pombal próximo do centro geográfico do Porto. Foi propriedade do Académico Futebol Clube sendo utilizado para diversos fins.
Hoje em dia só resta o lugar e uma frase pintada numa parede: “Football history was here”.
O topónimo “Lima” vem do empresário de sucesso João António Lima. Após vários negócios no Brasil decide regressar a Portugal para, juntamente com a sua esposa brasileira Luzia Bruce, se instalarem num palacete na rua Costa Cabral do qual fazia parte uma quinta. Após a morte deste homem de negócios em 1891, Luzia Bruce herda uma fortuna bastante assinalável. Morre em 1914 e doa uma grande parte do seu legado à Misericórdia do Porto inclusive a Quinta do Lima que, por sua vez, decide alugar o terreno ao Académico FC em 1923.
Atualmente um baldio e fantasma daquilo que foi, o estádio do Lima foi uma arena desportiva de ponta do nosso país sendo inaugurado em 1924 após algumas complicações devido à terraplanagem do solo. Além do campo de futebol, foi construída uma pista de atletismo e automobilismo e em 1937 foi colocado um relvado.
O Académico FC foi fundado em 1911 por José Neves Eugénio, estudante de 14 anos do Liceu Alexandre Herculano, e seus amigos. Inicialmente definiram o nome do clube como “Grupo de estudantes”, mas por pouco tempo. Em 1914 já tinha o nome atual. É de relevar que José Neves Eugénio, já com uma idade avançada, foi condecorado com a Cruz de Guerra pela sua prestação enquanto capitão do Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial.
O Académico FC, desde a sua fundação até à atualidade, é uma instituição desportiva eclética. Foi um dos primeiros clubes portugueses a ter hóquei em campo e hóquei em patins, andebol de onze e de sete, voleibol, basquetebol, ciclismo, sport athletics (que era o termo utilizado no que diz respeito às modalidades do atletismo), ténis, pólo aquático (praticado nas praias fluviais do rio Douro e do rio Leça), natação, cricket, badminton, automobilismo e campismo.
Com a construção do estádio, foi erguido todo um complexo desportivo único no país e na Península Ibérica. Além do campo de futebol e das pistas de atletismo, ciclismo e automobilismo, havia duas quadras de ténis, um ringue para patinagem e hóquei em patins e um campo para o basquetebol. Este último, sendo o primeiro recinto para a prática de basquetebol na cidade, foi palco a 24 de maio de 1931 para o primeiro jogo internacional da seleção portuguesa contra a seleção francesa. Os gauleses ganharam por 34 – 9.
Perante a longa história do clube alguns atletas são destacados. Manuel Fonseca e Castro, o primeiro internacional de futebol de um clube da cidade do Porto; José Prata de Lima, o primeiro atleta olímpico portuense tendo participado nos Jogos Olímpicos de 1928 na modalidade de Atletismo; Ribeiro da Silva, vencedor de duas voltas a Portugal em bicicleta nos anos de 1955 e 1957. Tinha a alcunha: o “português voador”:
Na década de 40, o Académico empresta o seu campo ao FC Porto. Até à inauguração do estádio das Antas em 1952, os dragões atuavam no campo da Constituição localizado na rua da Constituição. Quando jogava em casa com o Benfica ou com o Sporting pedia emprestado o campo ao Académico, ou ao Sport Progresso (campo do Amial). Depois de um desentendimento com este último, o FC Porto opta pelo Lima mesmo sendo mais caro. Jogou várias partidas entre elas o famoso FC Porto – Sporting de 1947 onde, além de jogo de futebol, foi cenário do filme “o Leão da Estrela” e, no ano a seguir, o FC Porto – Arsenal de Londres sendo esta equipa inglesa considerada a melhor do mundo na altura. Os portistas ganharam e receberam o que é conhecido globalmente como o maior troféu do mundo. Atualmente está exposto no museu do FC Porto.
Vizinho do Lima, do outro lado da rua da Alegria, contíguo à fábrica de fiação e tecidos “Matos e Quintans”, localizava-se o campo do Luso propriedade do Luso Atlético Clube. Foi criado no seguimento da junção de duas agremiações chamadas Sport Clube Nacional, fundado em 1914 e especialmente dedicado a desportos náuticos, e o Portugal Foot Ball Club fundado em 1923. Além do futebol, aqui era igualmente praticado o andebol de 11 e o hóquei em campo. Pelo Natal serviu de lugar para o famoso circo Mariano. O Luso Atlético Clube cessa as suas atividades em 1937.
A partir do fim da década de 50 e início da década de 60, o clube entra numa crise culminando na demolição do estádio e consequente inativação das modalidades de futebol, automobilismo e atletismo. De qualquer forma, o presidente Mário Navega, na década de 60, decide construir dois pavilhões dedicados à prática desportiva. Estes equipamentos continuam ativos.
É de elevar que desde o início da sua história, o Académico manteve-se sempre fiel à sua identidade. O amadorismo e ecletismo são os pilares deste clube portuense.
Apesar de haver notícias que relatavam o risco do desaparecimento do clube devido a dificuldades financeiras, em 2019 chegou à direção do clube uma proposta de investimento por parte da empresa espanhola SUPERA 24 FITNESS para fazer da área envolvente (desde o pavilhão A até ao parque de estacionamento na rua do Lima, passando pela sede localizada no palacete) um novo complexo desportivo de ponta fazendo lembrar aquele que outrora existiu na primeira metade do séc. XX. É de informar que a Câmara Municipal do Porto concedeu um terreno que era sua propriedade ao Académico para possibilitar o investimento.
Desta maneira, espera-se que este clube portuense se relance novamente na cidade configurando-se como um novo ponto de atração para a prática desportiva e para o convívio social.
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